Natal em Lisboa

Assim se passou a semana que antecede o Natal... muitas compras, muito trânsito, muitos jantares, cafés no Chiado e aquilo que era realmente importante deixar resolvido volta a ficar para trás... Niguém se lembrou de festejar o Solstício de Inverno! Sábado à noite, em véspera de véspera de Natal fico em casa... são os 30 anos a bater à porta. É também o cansaço acumulado, a influência do primeiro jantar de família desta quadra, o pânico de voltar a ter que deixar o carro estacionado muito perto da D. Carlos I e subir o Príncipe Real a pé para ir beber um copo ao Bairro. Por outro lado, o quentinho do meu quarto canta mais alto... aliás canta por mim! A juntar à melancolia que me assolou nestes últimos dois dias (e muito obrigado aos Gift pela música fenomenal que acabam de lançar... uma vez mais uma banda sonora eficaz para o que ainda me vai no coração), estive a ver na TVI um programa feito à minha medida: piroso, lamechas mas com muita música. Eis que a internet móvel está agora disponível até de manhã... Novamente no meu quarto sou obrigado a procurar, naquelas gavetas que tememos abrir, uns envelopes para a minha mãe (passa o ano a resmungar que as miúdas novas não querem trabalhar, mas resolveu dar 10€ aquelas que a ajudam... parece que são 7, como os anões da Branca de Neve). Pânico: a gaveta não abre! Razão: o fundo de contraplacado desmoronou-se com o peso da tralha que se tem acumulado ao longo dos anos... Tirei tudo cá para fora e não fui capaz de me abstrair das dezenas de cartas e postais que recebi nos últimos 10 anos... cartas de amor, de amigos, postais de aniversário e de Natal. Tudo fruto de um passado longínquo cheio de amizades, umas mais duradouras que outras. A melancolia ganhou agora a forrma de nostalgia... a lágrima luta lá dentro mas acaba por não derramar. O sentimento de curiosidade aumenta e relêm-se algumas das missivas... Por que é que hoje em dia já não se escrevem cartas? Contra mim falo que dependo dos emails e dos messengers para respirar... No entanto, estes apagam-se, quase sempre. Contrariamente, nas gavetas do meu quarto acumulam-se, em caixas de sapatos, memórias inesquecíveis e momentos únicos, bem como mensagens dos vários cantos do Mundo... Estou ansioso por reler algumas cartas dos amigos que fiz naquele Verão de 94 na Lituânia... algumas delas com 8 páginas. Verdadeiras cartas de amor ingénuo e genuino. Também encontrei o meu diário dessas mesmas férias e outro que escrevi durante o Inter-Rail dois anos mais tarde. Apetece-me chorar, sinto-me vulnerável, mas ao mesmo tempo cheio de histórias para contar, rever... e muitas outras para viver e compartir. Espero que tenham um Bom Natal... gostei de vos ver e saber que são felizes.